quarta-feira, 18 de maio de 2011

O lado bom da pobreza

Quanto menos recursos temos, mais precisamos de idéias criativas. E é dessa criatividade que o mundo necessita para crescer.

De gambiarra em gambiarra a economia enche o papo
Se a população não chega aos médicos, que os médicos cheguem à população. Foi pensando assim que os indianos resolveram criar serviços de enfermagem itinerantes no país. Grande parte da população da índia não tem acesso a postos de saúde. Mas esse pessoal agora não fica mais sem atendimento. Enfermeiros e médicos vão hoje aos vilarejos e fazem exames de sangue e raio x nos moradores por lá mesmo. Os dados são enviados via internet para algum hospital da redondeza, onde então é feito o diagnóstico.

O indianos pensaram como qualquer de nós pensaria no dia a dia. Se não temos recursos para resolver problemas, só nos resta improvisar. Usar a criatividade. Essas idéias nascidas da escassez podem resolver o problema de uma pessoa, de uma comunidade, de um país, como no caso da índia. Em alguns casos, de gente de todo o mundo. A idéia dos indianos de levar atendimento a vilarejos, por exemplo, serviu de inspiração para a gigante GE. A companhia lançou em 2008 o Mac400, primeiro aparelho de eletrocardiograma portátil do mundo. Ele cabe em uma maleta, tem bateria que dura uma semana e custa menos de US$ 1000 (10% do preço de um convencional). E agora é exportado para paises como a China, onde ajuda pessoas carentes a conseguir atendimento médico.

Idéias criativas como essas estão nascendo cada vez mais nos chamados países emergentes. Deles têm saído iniciativas que inspiram seus colegas ricos, como EUA, Japão e europeus. É o que chamamos de inovação na base da pirâmide, ou seja, inovação gerada pelos mais pobres. Primeiro as pessoas introduzem uma idéia para solucionar desafios do cotidiano. O produto então é vendido no mercado interno, ganha escala e acaba exportado.

Basta ver os dados para entender como isso está acontecendo. A coreana Samsung investe mais em pesquisa e desenvolvimento do que a americana Intel. A China investe mais em pesquisa e desenvolvimento do que o Japão. Com a ajuda deles o mundo tem ganhado mais conhecimento e riqueza. Dois fatores impulsionam a criatividade dos países mais pobres: o baixo custo e a ousadia. E um ótimo exemplo éo Brasil, que também partiu de suas necessidades para gerar inovação.

Aproveitando a capacidade intelectual mais barata dos excelentes engenheiros aeroespaciais brasileiros, a Embraer produziu aviões que custam menos que dos concorrentes. A companhia olhou para um nincho ignorado por empresas já consolidadas do setor. Foi também com ousadia que surgiram no país outras idéias distantes do pensamento convencional e de formulas prontas, como o etanol e o motor flex para carros e o “porco light” da Embrapa (que concentra mais carne por quilo animal).

Claro que os países mais pobres ainda têm um longo caminho a trilhar. Mas, para mim, eles possuem um espírito inovador capaz de levar as idéias mais loucas e revolucionárias adiante. E de derrubar as velhas maneiras de pensar.

Fonte:
Texto original de Antoine Van Agtmael para a revista Superinteresante deste mês, Editora Abril.
Antoine Van Agtmael é presidente do conselho da empresa de investimentos Emerging Markets Management e criador do termo “países emergentes”.


-------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Como comentar esta postagem?
- Clique em "Comentários" logo abaixo.
- Em "Comentar como" selecione "Nome/URL", digite seu nome (pode deixar a URL em branco), escreva seu comentário e clique em "Postar Comentário". Pronto!

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Nenhum comentário:

Postar um comentário